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Leis trabalhistas e juros travam fusões
Embora tenha cenário econômico favorável, Brasil é o 49º país em maturidade para fusões entre 175 países - Ambiente tecnológico e fatores socioculturais foram bem avaliados, mas desempenho foi ruim em legislação
Com ambiente econômico estável e aumento na renda  média, o Brasil tem um dos cenários de negócios mais promissores aos  olhos de investidores externos.
O alto custo do crédito e a  legislação complexa do país, porém, inibem parte do potencial e  desestimulam fusões e aquisições.
A conclusão é do estudo da Cass  Business School em parceria com a consultoria Ernst & Young, que  analisou a maturidade de 175 países para fusões e aquisições.
Na  lista, o Brasil aparece na 49ª colocação, atrás de líderes como Estados  Unidos, Inglaterra, China, e até outras nações latinas.
A análise  considerou seis temas: legislação, economia, finanças, cenário político,  tecnológico e sociocultural. A cada fator foi atribuída uma pontuação  entre 1 e 5, sendo que a nota mínima reflete ambientes avançados.
As  nações maduras têm principalmente mão de obra qualificada, alto nível  educacional e acesso fácil a crédito.
No ranking geral, a nota do  Brasil foi de 2,7 pontos, avaliado como mercado em transição,  classificação anterior às nações maduras.
LEIS COMPLEXAS
Ambiente  tecnológico e fatores socioculturais foram avaliados positivamente, mas  em legislação o país teve o pior desempenho: 3,6 pontos. O número  superou negativamente até a média latina, de 3,3 pontos.
"Existem  muitas empresas querendo investir no Brasil, mas, quando iniciam a fase  de auditoria, fatores como custo de mão de obra, complexidade das leis  trabalhistas e impostos diferentes assustam os investidores", diz  Ricardo Reis, líder de fusões e aquisições da subsidiária brasileira da  Ernst & Young.
Fatores financeiros também contribuíram  negativamente para a classificação do Brasil. Embora tenha um mercado  maduro de capitais, mais da metade das companhias do país consideram  acesso a crédito uma das grandes restrições.
"A taxa de juro real  brasileira está atualmente em 6%, o que é considerado alto para os  padrões internacionais", afirma Peter Wilson, da Business School São  Paulo.
"No entanto, o retorno sobre o capital investido está na faixa  entre 18% e 25%. Isso quer dizer que, se por um lado o acesso ao  capital para a fusão é caro comparando outros países, por outro a  rentabilidade é grande", diz.
Na avaliação dos especialistas, o  posicionamento brasileiro atrás de nações como Chile e México pode ser  explicado pela estrutura financeira boa que os países construíram antes  do Brasil.
Do grupo dos Brics, o Brasil está à frente de Índia e  Rússia, que atingiram a mesma média de 2,7 pontos.
Apesar do cenário  pouco maduro, as fusões aumentaram 76% no primeiro semestre, a 351  negócios, segundo a KPMG. O volume financeiro somou US$ 44,2 bilhões,  segundo a Thomson Reuters.
 
Manobra  tenta amenizar custos futuros 
Diante  do complexo cenário jurídico brasileiro, empresas que buscam fusões têm  adotado a tática da contingência.
A manobra, que leva o nome de  conta especial de garantia (ou "scroll account", segundo a terminologia  em inglês), prevê que parte do volume de recursos destinado à compra de  uma empresa seja retida para cobrir possíveis custos de processos  futuros -como os trabalhistas.
"Cria-se uma conta paralela e, caso  surjam processos trabalhistas, por exemplo, usa-se esse dinheiro para  pagar, evitando que a empresa compradora arque sozinha com esse gasto",  diz Francisco Satiro, professor da DireitoGV.
Segundo Satiro, hoje os  grandes perigos considerados por quem quer comprar uma empresa são os  riscos trabalhistas, tributários e previdenciários.
"Temos um regime  jurídico impreciso, em que não existe apenas um caminho a seguir" diz.
Segundo  Satiro, entre os ramos em que a prática é mais frequente estão  educação, indústria e setores de crédito tributário.
 
											 
							
							