Notícia
Segurança de bens incentiva adesão à sociedade limitada
Em modelo individual, empresário perde posses pessoais ao endividar-se
No  fim de julho, três anos depois de ter criado a YellowA, agência de  marketing para redes sociais, a empresária Acácia Lima, 44, sentiu  necessidade de dar um passo adiante: transformar o modelo do negócio,  então individual -sem sócios-, no de sociedade limitada.
O motivo  da mudança, segundo a empresária, foi a exigência de grandes  organizações por empresas parceiras limitadas. "Perdi trabalhos  importantes porque a agência era individual", recorda ela, que teve de  abrir sociedade com o marido, que hoje detém 10% do negócio.
Com o  novo modelo, completa, "a responsabilidade financeira da empresa recai  sobre a minha pessoa jurídica". Assim, os bens pessoais de Lima não são  usados como garantia em caso de não pagamento de dívida -como ocorre nas  individuais.
Situações como a dela não são isoladas. Pesquisa  feita pela Jucesp (Junta Comercial do Estado de São Paulo) a pedido da  Folha aponta que o total de empresas individuais que viraram limitadas  cresceu 128% no primeiro semestre de 2011, em relação ao mesmo período  de 2010.Até junho, 2.252 negócios efetivaram essa transformação,  legalizada em 2008. 
SEGURANÇA
Assegurar  bens é o maior responsável pelo aumento de mudanças, avalia Miguel  Silva, advogado tributarista do Miguel Silva & Yamashita Advogados.  "Os empresários individuais podem perder o segundo imóvel e o carro em  caso de inadimplência", diz.
Antecipando o risco, "muitos abrem  negócio direto no modelo limitado", considera. Não obstante, a exigência  de sociedade "faz com que eles incluam sócios figurativos no contrato".  A tributação é a mesma para os dois modelos.
Para Janaína  Lourenço, assessora jurídica da Fecomercio (Federação do Comércio de  Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), sócios "fictícios"  deixarão de existir com a Eireli (Empresa Individual de Responsabilidade  Limitada), em vigor a partir de janeiro de 2012. 
  
  
Novo modelo desestimula sócio fictício
A Eireli, que entra em vigor a partir de 2012, é limitada sem sociedade 
Na  contramão do crescimento da quantidade de empresas individuais que se  transformam em limitadas, há empresários que postergam a mudança para  aguardar a vigência da Eireli (Empresa Individual de Responsabilidade  Limitada), em janeiro do ano que vem.
O advogado Ricardo Ribeiro,  35, pensou em abrir um escritório de advocacia no formato de sociedade  limitada neste ano, mas desistiu ao saber que, pelo novo modelo, não  precisará de sócio."Prefiro esperar quatro meses e aderir à Eireli a  abrir sociedade em uma empresa que eu pretendo gerenciar e tocar  sozinho", destaca ele.
A decisão de Ribeiro foi sensata e deve  ser seguida pelos empresários, na avaliação de Paulo Melchor, consultor  jurídico do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas  Empresas).
"Ainda que o sócio figurativo detenha baixa parcela do  negócio, se há problemas jurídicos e financeiros, os dois [sócios] são  prejudicados."
Esperar até o ano que vem para aderir ao modelo,  reforça, pode ser o tempo necessário para o empresário avaliar a  viabilidade financeira do negócio e decidir se realmente pode tocá-lo  sozinho.
Na opinião de Janaína Lourenço, assessora jurídica da  Fecomercio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado  de São Paulo), como ocorreu com Ribeiro, outros empresários deixarão de  abrir sociedade fictícia e optarão pela Eireli.
"Empresários  individuais que recentemente transformaram o negócio em sociedade  limitada podem frustrar-se com as vantagens do novo modelo, como a  possibilidade de ser sócio de outra empresa de diferente segmento",  avalia.
O advogado tributarista Miguel Silva, do Miguel Silva  & Yamashita Advogados, concorda: "A sociedade limitada vai tornar-se  inútil para empreendedores que não desejam incluir sócio no negócio".
INJEÇÃO DE CAPITAL
Abrir  sociedade foi a base de crescimento sustentável do Grupo I9, de  tecnologia da informação. "Éramos uma consultoria pequena e, com mais  três sócios, conseguimos expandir", enfatiza o sócio-diretor César  Palmieri.
O negócio, limitado desde 2007, cresce mais de 100% ao  ano com quatro gestores, diz Palmieri. "Temos sócio em cada unidade da  empresa."  
  
Piso para adesão à Eireli é barreira para pequenos
Apesar  de a Eireli trazer vantagens aos empresários, Rogério Amato, presidente  da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), lembra que o piso do  capital social de cem salários mínimos (R$ 54,5 mil) pode inviabilizar a  adesão. "Há recursos na Justiça contra esse piso porque ele não é  democrático e exclui pequenos empreendedores."  
  
Figurativo torna-se "real" na Justiça
Sócio minoritário da empresa também responde legalmente em caso de processo por dívida 
Assumir  a empresa do pai não estava nos planos de Andréa Serpa, 43. A morte do  progenitor e sócio majoritário no mês passado, no entanto, fez com que  ela tivesse que assumir o negócio com sua mãe e três irmãos - antes  sócios com pequenas parcelas.
"Nós temos que manter o legado",  diz ela, uma das sócias da Expambox, empresa limitada que fabrica  acessórios para banheiro. A dificuldade em assumir o negócio  repentinamente, destaca, "ainda não deu tempo de ser avaliada".
Não  analisar a escolha do sócio figurativo pode ser arriscado ao  empresário, diz Dariane Castanheira, especialista em micro e pequenas  empresas da FIA (Fundação Instituto de Administração).
A inclusão  de um parceiro "deve ser planejada independentemente da participação  dele no negócio", frisa. Um sócio, mesmo que figurativo, reitera,  "poderá ajudar a gerenciar a empresa na ausência do majoritário, se  estiver presente no contrato administrativo do negócio", como ocorreu  com Serpa. "Não é porque a participação é pequena que o empresário deve  escolher qualquer um."
"O sócio deve ser bem escolhido para não  atravancar os planos do negócio", aconselha Fábio Mizumoto, professor de  estratégias e organizações do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa).
Liana  Bittencourt, diretora da consultoria de negócios que leva seu  sobrenome, concorda: "A sociedade, mesmo que para 'cumprir tabela', pode  tanto ajudar a empresa como arruiná-la". 
RISCOS DA PARCERIA
O  "figurante" também corre riscos. Caso um dos sócios presentes no  contrato administrativo (que determina participação na gestão) esteja  envolvido com fraude, por exemplo, a empresa e os bens pessoais dos dois  empresários ficarão comprometidos em igual proporção - e não  equivalente à porcentagem societária -, de acordo com advogados  tributaristas. 
Se o  sócio estiver só no contrato societário (que define as cotas), contudo,  poderá entrar na Justiça e negar sua participação no dia a dia.
A  professora C.T., que pediu para não ser identificada, foi sócia  figurativa de seu marido em uma escola há cinco anos. A parceria de 10%  resultou em problemas. "Ele deixou de pagar impostos e fui contestada na  Justiça."  
 
											 
							
							